Lei civil X lei religiosa ou crime X pecado

Lei civil X lei religiosa ou crime X pecado



Que as religiões vivem se atacando, cada uma querendo ser a verdadeira verdade, todo mundo sabe.

O grande problema é a religião querer impor suas leis aos que não são da sua religião. Pode ser pecado, ou haram, mas não é crime, e vice-versa. Mas as religiões vivem se metendo nas leis civis e nas leis das outras religiões.

Adultério pode ser pecado para algumas religiões, mas no Brasil não é mais crime. Então para os adeptos dessas religiões é lei não adulterar, mas para quem não segue essas crenças, o problema é pessoal. A pessoa é livre para fazer suas escolhas.

Desenhar um profeta pode ser pecado, pode ser haram, mas se o país em questão não tem essa lei, quem não é dessa religião não tem que obedecer.

Roubar é pecado e é crime. Então todos deveriam obedecer. E cada um deve responder de acordo com o tribunal, recebendo a respectiva pena de acordo com o sistema, como cidadão pode ser preso, como religioso pode ser excomungado.

Mentir é pecado e é crime. Idem.

Poligamia não é pecado para algumas religiões, mas na maioria dos países é crime. E agora?

E assim sucessivamente.

Há religiões que respeitam esse princípio e não têm bancada no Congresso, por exemplo, principalmente porque não fazem proselitismo, não querem converter o outro à força. Mas há outras que fazem questão de exigir que suas leis religiosas virem leis civis.

O pior de tudo é a hipocrisia das religiões que nem mesmo os seus seguidores obedecem às suas leis religiosas, mas querem exigir que a sociedade civil obedeça.

Se cada segmento se restringisse aos seus assuntos seria perfeito. Como cidadão cada um obedecendo às leis da sociedade civil, como religioso cada um obedecendo às suas leis religiosas, e ninguém se metendo nas leis do outro. Ah, seria perfeito!

Quando eu era religiosa nunca gostei de proselitismo, mas como era praticamente uma imposição da religião e eu não tinha "dom" para isso, convivia com um belo sentimento de culpa. Hoje, depois que me libertei da prisão da religião, posso dizer que odeio proselitismo, odeio que venham pregar para mim, e não prego para ninguém, não invado o espaço de ninguém para divulgar minhas crenças, escrevo no meu blog, nas minhas páginas das redes sociais, usando meu direito de liberdade de expressão, mas não invado o espaço de ninguém para discordar ou debater religião. Cada um segue o que quer. O que não gosto ou não concordo nos blogs e perfis dos outros apenas ignoro.

E por falar em converter o outro à força, falando das três maiores religiões, o judaísmo não faz proselitismo, não se mete nas leis do país, e em Israel há muito mais liberdade do que em outros países dito laicos, suas leis religiosas são apenas para os seus seguidores. O cristianismo faz proselitismo e já "converteu" muitos à força, principalmente judeus, já matou muitos que não quiserem se render a essa conversão e vive se metendo nas leis civis, querendo transformar pecado em crime. E o islamismo faz proselitismo, "converte" à força, mata quem não se "converte" e mata quem não segue suas leis religiosas em países em que essas leis não são consideradas crimes.

O resumo de tudo é que não se pode condenar ou matar porque o outro não respeitou a lei religiosa de um grupo religioso se essa lei não é crime no país. E se houve violação das leis civis, o caminho é mover um processo básico e deixar a Justiça cuidar do assunto. Mas nada, absolutamente NADA, justifica a maldade e a violência.

E se você não é Charlie, você é contra a liberdade de expressão e a favor da violência, não tem outra opção.

Obs.: Como ex-cristã, o que vivo combatendo, no meu blog e nos meus perfis, é a falta de coerência do cristianismo, é não ter leis claras, é dizer que segue a Torah, mas abolir por conta própria alguns mandamentos, fazendo uma grande confusão na mente das pessoas, inclusive na dos seus seguidores, e ainda condenar e acusar de heresia quem quer obedecer a todos os mandamentos do código de leis que eles dizem seguir. Coerência seria assumir que não seguem a Torah e criar então suas próprias leis e tornar isso bem claro e transparente.