Capítulo 2.5 - Dica de leitura: Um ano bíblico

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Dica de leitura: Um ano bíblico
A. J. Jacobs - Editora Agir (8522009252) 





"De família judia, mas declaradamente agnóstico, A.J. Jacobs se propôs a dar cabo a uma tarefa insólita: reunir todas as regras da Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, e segui-las à risca durante um ano. Neste bem-humorado livro, Jacobs descreve seu dia a dia como um bíblico fundamentalista e experimenta uma espiritualidade à qual não estava acostumado." (divulgação)

Há muito tempo que não mergulhava em um livro excelente assim. Não conseguia parar de ler e acabei a leitura em dois dias. Quando li as primeiras cem páginas escrevi nas redes sociais que ele estava entre os cinco melhores livros que já li, mas agora que cheguei ao final preciso atualizar o ranking: é o segundo melhor livro que li em toda minha vida. O primeiro ainda não sei qual é, rsrs, tenho tantos livros preferidos, fica difícil, talvez seja o mais lido por mim e o meu queridinho da infância, O meu pé de laranja lima. (Antes que me mandem para a fogueira, a Bíblia não entra nessa competição, até porque não é um livro e sim uma biblioteca, então para ser justa eu teria que dar nota a cada livro separadamente.)

Um ano bíblico é praticamente perfeito. Simplesmente é a nossa história, a história de quem está fazendo teshuvah, como eu. Eu me vi descrita ali, as pesquisas e conclusões sobre traduções da Bíblia, as decisões sobre a quem deveria obedecer, lei escrita ou lei oral, a busca pelo equilíbrio. Os mesmos questionamentos sobre o sistema religioso. Muitas situações engraçadas na dificuldade em cumprir alguns mandamentos. Eu ri e chorei o tempo todo, e chorei mais no final, porque há uma situação muito triste.

Em um tempo em que pessoas no mundo inteiro estão sendo despertadas para um retorno às raízes bíblicas, à Torah, o livro é um presente muito especial. Quem está fazendo teshuvah precisa ler, e quem quer entender os que estão fazendo teshuvah deveria ler também.

Ok, o livro só não é perfeito porque a versão da Bíblia que usaram não seria a minha escolhida; lembro de dois errinhos da linguagem escrita de doer os olhos; a equipe de tradução parece não ter muito conhecimento em judaísmo e cristianismo evangélico, porque alguns termos usados, algumas palavras traduzidas do hebraico e alguns nomes bíblicos ficaram estranhos para quem está acostumado com o "evangeliquês" e com o "teshuvês". Fora isso, com já disse, é praticamente perfeito.

O estilo do autor é uma delícia e sua esposa merece um prêmio por toda a sua contribuição, principalmente pelos momentos engraçados. Conseguia imaginar suas expressões faciais em cada situação e me diverti muito com ela.

E claro que termino com minha frase preferida depois de um livro excelente ou um filme lindo: quero ler (ou ver) de novo, de novo, de novo e de novo.

Trechos de Um ano bíblico, de A J Jacobs:

“Parece que na Israel antiga – antes de os romanos assumirem – ninguém pagava impostos propriamente ditos. Os dízimos eram os impostos. E o sistema de dízimos era tão complicado quanto um formulário de declaração de imposto de renda. Repartia-se com os sacerdotes, com os mantenedores do templo, com o próprio templo em si, com os pobres, as viúvas e os órfãos. Portanto, suponho que, ao menos por enquanto, é provável que dar o dízimo após os impostos esteja certo.”

“Saio cedo da reunião – devo cuidar do meu filho –, mas retorno na semana seguinte para bater um papo com Ken. Ele me explica que sua jornada em direção ao ateísmo começou quando, ainda criança, descobriu que Papai Noel não podia existir.
— Simplesmente não era viável entregar todos aqueles presentes. Isso foi bem antes de surgir o FedEx.
Assim, Ken percebeu a falsidade do Papai Noel devido a falhas de logística.
— Comecei a me perguntar: o que mais eles estão me contando que não pode ser verdade? – continua.”


“Percebi que estava me parecendo com o que se conhece em hebraico como um chassid shote. Um idiota correto. No Talmude há uma história a respeito de um homem piedoso que não salvaria uma mulher que estivesse se afogando porque temia estar quebrando a proibição de não tocar em mulher. O exemplo supremo de um tolo religioso.
A moral da história é a mesma da parábola de Jesus sobre o Bom Samaritano: não se deixe prender tanto às regras a ponto de esquecer das coisas mais importantes, como a compaixão e o respeito pela vida. O idiota correto é como a Bíblia cristã chama o fariseu – um dos santarrões hipócritas e legalistas que criticavam os seguidores de Jesus por colher grãos de trigo durante o sábado judaico.”


“Levei três segundos para comer cada cereja. Três segundos para comer, mas pelo menos cinco anos para serem produzidas. Parecia injusto com relação ao trabalho duro da cerejeira. O mínimo que eu podia fazer era dedicar toda minha atenção à cereja durante aqueles três segundos, realmente apreciando a acidez da casca e o ruído de quando tritura a fruta. Acho que isso se chama estar cuidadosamente atento, ou estar presente àquele momento, ou ainda tornar o mundano sagrado. Seja o que for, estou fazendo mais disso. Assim como a ridículoa e enorme lista de agradecimentos para o meu homus tahine, o tabu das frutas me fez ficar mais consciente de todo o processo de produção, da semente, do solo, dos cinco anos regando e aguardando. Eis o paradoxo: eu pensava que a religião me faria viver mais com a cabeça nas nuvens, mas na maioria das vezes ela me prende a este mundo.”

Leia também
Alguns trechos do livro
Pastor pregava segurando cobras morre de mordida de cascavel. O Globo (o livro cita esse pastor)